Nação azul, as últimas semanas
tem sido difíceis para os cruzeirenses, uma sequência ruim no campeonato,
aliado a uma aparente falta de compromisso dos jogadores já arrepia cada um de
nós.
Isso faz com que a maioria se
preocupe com 2015, mas o ano de 2016 já começa a se desenhar na Toca da Raposa.
Uma das questões que movimentou a internet recentemente foi sobre a renovação
(ou não) do goleiro e capitão Fábio.
Não vou entrar no mérito do
conceito de idolatria, cada torcedor tem seus próprios padrões e critérios para
elevar um jogador ao panteão de ídolos. A discussão que eu proponho é basear-se
nos números e no histórico do atleta.
A frieza
dos números
O valor inicial pedido pelo
goleiro cruzeirense foi de R$ 700 mil/mês, com duração
de três temporadas. A proposta foi descartada pela diretoria, pois no final do
contrato a conta seria 25 milhões de reais pela renovação do arqueiro.
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Capitão (Foto: Paulo Fonseca/EFE) |
Hoje pela manhã existiu a
informação de que a proposta atual do staff do jogador é de R$ 500 mil + luvas (o
valor pago pela assinatura e cumprimento do contrato). Não se tem notícias dos
rendimentos atuais do jogador, e na sua última renovação deu-se
a entender que Fábio já era um dos mais bem pagos do elenco celeste.
Beirando os 35 anos (completará
no próximo mês) o jogador já anunciou algumas vezes que encerraria a carreira
quando o vínculo com o clube terminasse. Fato é que, na renovação de 2011,
disse também que a intenção era atuar até os 38 anos. Assim esse será,
possivelmente, o último contrato da carreira do atleta.
Analisando o mercado brasileiro
para método de comparação, Jefferson (32 anos) do Botafogo recebe estimados R$ 380 mil/mês (é um
patamar financeiro diferente comparar Série A com a Série B), apesar disso
demonstra que o valor pedido pelo capitão do Cruzeiro é 30% maior do que recebe
o atual titular da seleção brasileira.
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Jefferson (Foto: Leo La Valle/EFE) |
No mercado internacional, o valor
pago pelo Benfica ao goleiro Júlio César (35 anos) é estimado em 1,5 milhão de euros por
temporada mais premiação por metas alcançadas, com a conversão do dia, o
guarda-meta das águias ganha por mês o que Fábio pede à diretoria.
O legado
Completando em 2015 a 11ª
temporada com a camisa do Cruzeiro, Fábio viveu intensamente altos e baixos com
a camisa celeste. Teve a pior lesão da carreira justamente no jogo que marcou
sua maior falha, em 2007. Recuperou-se, assumiu de novo a titularidade e marcou
o nome na história sendo o atleta que mais vezes atuou pelo clube.
Se antes era marcado por grandes
atuações e escassez de títulos, como no primeiro jogo da final da Libertadores
em 2009 (que na minha opinião foi uma das 3 melhores exibições de um goleiro
pelo Cruzeiro), o bicampeonato veio coroar o esforço do atleta, dando
argumentos que faltavam para os que ainda não o chamavam de ídolo pudessem
reconhecer, ao menos, que o atleta é o maior ícone do clube desde a
aposentadoria de Sorín.
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Fábio em sua melhor atuação (Foto: Getty Images) |
Há ainda a posição de líder do
elenco, o jogador veste a braçadeira de capitão não apenas pelo tempo na casa,
mas pelas atitudes e principalmente pela postura. Muitas vezes é possível
encontrar vídeos com sua preleção sendo feita aos atletas,
passando motivação aos companheiros e orientações sobre como a partida deve ser
conduzida.
Substitutos
A Toca da Raposa I é uma
reconhecida academia de goleiros, nos últimos anos tivemos Rafael, Gabriel
(atualmente no Napoli), Charles (atualmente no Vasco), Georgemy (emprestado ao Estoril),
Brasão e Alan Bernardon. Todos com passagem pela seleção brasileira nas
categorias de base. A presença de Fábio, no entanto, torna a titularidade destes
jogadores um sonho distante.
Rafael é o único com jogos pelo
time principal entre os citados. Teve de 2011 para cá, de acordo com o
Footstats, 17 presenças em campo (a mais representativa no clássico do 6x1). É
muito pouco, para quem apareceu como promessa da posição. A falta de jogos
mostrou que o jogador foi eclipsado pela presença do titular, e não deixa
possibilidade para avaliar a sua evolução como goleiro, dos 19 (quando apareceu
no Mundial Sub-20) até hoje aos 26 anos.
Gabriel saiu pela porta dos
fundos ao não renovar o contrato, e foi para o Milan por 500 mil euros. A ida de Georgemy para o
Estoril é a tentativa de dar experiência ao jovem, mas parece equivocada ao
saber que o titular da equipe é o veterano Pawel Kieszek de 31 anos, que vai para a segunda
temporada na meta portuguesa.
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Georgemy (Foto: Washington Alves/VIPCOMM)
Washington Alves/VIPCOMM
Washington Alves/VIPCOMM
Washington Alves/VIPCOMM
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Solução
Para este colunista que vos fala, a importância de
Fábio não pode ser contestada. Experiência e representatividade pelos anos de
serviço não podem simplesmente serem ignoradas.
O momento da negociação não foi bom para a
diretoria, que demorou demais em iniciar o processo. Próximo da data onde já
começaria a receber propostas de outros times o staff do jogador tem condição
de ditar os rumos da transação, e pode esperar por uma proposta alta do OrlandoCity para inflacionar ainda mais os valores pedidos.
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"Tenho dinheiro e compro quem eu quiser" (Foto: Divulgação) |
A solução proposta é agir como Barcelona, explicado por Ferran Soriano,
e sugerir um valor base e mais bônus por metas alcançadas. Assim se valoriza a
participação nos jogos da temporada, e o que se conquista por meio deles,
títulos, classificações, prêmios individuais, etc..
Ao passo que concretizado o negócio, Fábio provavelmente
assinará seu último contrato como atleta do clube, representaria uma jornada
com mais de 800 jogos. Isso por si só dará ao atleta o status quase
inalcançável de maior número de jogos com o Cruzeiro, aliado à possibilidade de
alcançar conquistas maiores e por consequência ser ídolo de toda uma geração de
torcedores.
Ainda que isso se concretize o clube precisa
definir desde já um substituto, e que o escolhido seja preparado com minutos em
campo. Na Europa há equipes onde os goleiros revezam entre os jogos da liga e
os jogos da copa, é uma possibilidade.
É possível também agir como o Chelsea trabalhou
Courtois, com um empréstimo para outra equipe, ainda que em outro país, em que
o jovem tenha expectativa de titularidade. O belga jogou por três temporadas no
Atlético de Madrid, até ganhar maturidade suficiente para barrar Petr Cech.
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11 temporadas e 15 títulos depois, Cech foi para o Arsenal (Foto: Eurosport) |
Por fim ninguém é insubstituível, os goleiros
envolvidos nas negociações da janela de verão europeia provam isso. A saída de
Casillas do Real Madrid, e a do próprio Cech do Chelsea, mostram que por melhor
que seja o jogador a instituição sempre será maior que qualquer um, mesmo um
goleiro icônico com mais de uma década de clube.
P.S.: Pra quem não entender a referência da legenda do Júlio César.
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