O
Cruzeiro de 2015 é um assombroso somatório de erros. Fazer uma afirmativa como
esta depois de uma derrota remete à raiva sentida no período pós-jogo, mas
quando analisamos os fatos que acontecem desde o fim de 2014 é possível consentir
a frase que abre o parágrafo.
Podemos
enumerar os erros fatais, ficarão mais perceptíveis e mais óbvios e
consequentemente piores. Existe uma arrogância que enevoa a percepção da alta
cúpula celeste, não enxergar os equívocos não os transformam em acertos, pelo
contrário, é capaz de piorá-los.
Primeiro erro: Indefinição que gera
despesas.
O planejamento para o ano de 2013 começou ainda em 2012, no final daquela
temporada (depois da certeza que não corria mais riscos) a diretoria definiu
que não continuaria com o treinador, mesmo assim o relatório do elenco
produzido pelo técnico em questão ditou a forma como o clube começou a moldar o
ano do tricampeonato.
A
saída polêmica de Montillo, desagradando à maioria da torcida, era parte desse
projeto, que tinha a convicção em suas escolhas. A contratação de jogadores “desconhecidos”
era baseada na integração entre diretoria e comissão técnica, isso possibilitou
um encaixe melhor de todo o elenco.
Em
2015 o primeiro erro foi exatamente a falha na hora de antecipar, de planejar o
ano. A saída de Alexandre Mattos tinha sido definida em novembro passado no meio de uma indecisão, se o clube investiria em reforçar ainda mais o elenco bicampeão
ou se os cortes de orçamento fariam o clube investir nos jogadores formados no
clube.
A
partir daí todos sabem a história, prevendo a saída de seu time base, o
treinador pediu a contratação de Gabriel, Arouca, Robinho e Lucas Pratto. Foi
atendido com a contratação de Leandro Damião, Willians, Felipe Seymour, Riascos,
Fabiano e Douglas Grolli.
A
obviedade do erro já começa por aí, com a política de corte de gastos sendo
implantada, qual era a lógica de contratar Riascos, um atacante colombiano de
29 anos, jogando no México, e cujas estatísticas apontavam 4 gols em 40
partidas na últimas duas temporadas. Pagando por ele 2 milhões de dólares.
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Você já viu este cara em campo? (Foto: Washington Alves/Light Alves) |
Ou
Willians, aos 29 anos, um volante famoso por ser bom em desarmes, mas que comete incontáveis
erros de passe e tem uma frequência arrasadora de cartões amarelos, desembolsando 3,2 milhões de reais.
Um
atacante de 26 anos que nas duas temporadas anteriores somou 11 gols em 52
partidas pelo campeonato brasileiro, não parece ser tão ruim se deixarmos de considerar os seus
vencimentos, dos quais o clube arcaria com 544 mil reais mensais. Somente este
ano Leandro Damião custou 4,3 milhões aos cofres do Cruzeiro.
Jogadores
que tiraram espaço de jovens que brilham no time sub 20 do clube, como Hugo Ragelli,
Marcos Vinicius, Eurico, Bruno Edgar, Bruno Viana e Alex, além de outros
jogadores que se foram por falta de oportunidades, como Marlone e Neilton.
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Hugo Ragelli, preterido por Damião, Henrique Dourado e Joel. (Foto: Reprodução \TV Globo Minas) |
Isso expõe o segundo erro fatal: Falta
de convicção.
Se
a posição de valorizar os jogadores da base fosse tomada com consciência, mesmo
que em detrimento dos títulos, com o objetivo claro de dar experiência aos que
entrassem e fortalecer o caixa da instituição o clube não passaria pela
turbulência que está passando hoje.
Movida
por promessas a torcida esperou até o fim de julho pela contratação de um jogador de nível internacional para carregar o time do Cruzeiro aos títulos. Ou pelo
menos era assim que a diretoria fazia parecer, ao afirmar quase semanalmente
que a contratação viria.
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"Lucas Lima vai chegar na segunda" (Foto: Ivan Storti/ Santos FC) |
Cada
atitude dessas motivou uma desconfiança crescente no torcedor celeste, as falácias
repetidas na tentativa de fazer o cruzeirense acreditar em algo que nem mesmo a
diretoria tinha certeza.
O
desgaste interno provocou a saída de Marcelo Oliveira, o ambiente que era o
diferencial da equipe nos anos anteriores foi transformado, e deixou de ser uma
família cruzeirense para se tornar um aglomerado de egos. Para administrar esse
ambiente o escolhido foi um comandante famoso em impor o seu próprio ego sobre
os demais.
O
clube então contratou o novo diretor de futebol depois do fechamento da janela
internacional, e com indicação do próprio treinador, cargo este em que o
presidente se definia como capacitado e que acumulou nos 8 meses anteriores.
A sucessão de atitudes tomadas uma após a outra sem a menor convicção trouxe o clube até o ponto em que está.
O terceiro e mais perigoso: Falta de
meta.
“Não
vamos colocar meta. Vamos
deixar a meta aberta, mas, quando atingirmos a meta,
vamos dobrar a meta”. A frase da presidente se encaixa como uma luva no atual panorama
celeste.
Com todos os erros
citados anteriormente, o elenco e a direção não enxergam mais o que fazer
durante o campeonato brasileiro deste ano, os atuais 5 pontos da zona de
rebaixamento e os 10 pontos da zona de classificação para a Libertadores,
transformam jogos como contra o Joinville em um desfile de apatia pelo gramado.
Não há um objetivo, se existe o
temor dos torcedores de que o ano de 2011 se repita, por parte da direção não
parece haver cobrança para combater a ausência de atitude dos atletas e da
comissão técnica.
As folgas em excesso, justamente
no período em que a falta de jogos no meio da semana davam o tempo necessário
para que a equipe encaixasse o novo estilo de jogo, irritaram demais parte da
torcida.
Ninguém discute que os muitos
jogos do calendário nacional provocam lesões e cansaço muscular, mas a equipe
passou a treinar em um período apenas, e ganhou até dois dias de descanso semanas atrás.
Não haveria do que reclamar, se o entrosamento e a intensidade da equipe estivessem de acordo com o potencial que dela é esperada, jogadores como Manoel, Henrique e Mayke já demonstraram que são de qualidade diferenciada, mas não conseguem render, seja com o velho esquema 4-2-3-1 ou o novo 4-3-3 (4-1-4-1) de Luxemburgo.
Treinar pra quê? (Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.APress) |
Não haveria do que reclamar, se o entrosamento e a intensidade da equipe estivessem de acordo com o potencial que dela é esperada, jogadores como Manoel, Henrique e Mayke já demonstraram que são de qualidade diferenciada, mas não conseguem render, seja com o velho esquema 4-2-3-1 ou o novo 4-3-3 (4-1-4-1) de Luxemburgo.
Temores para
o futuro.
O terrível ano de 2011 está recente na memória
de muito cruzeirense (eu incluso), e se a goleada por 6x1 fez muita gente
esquecer os momentos ruins daquele ano é nesta fase do campeonato que o
torcedor deve orientar suas reclamações para não passar por aperto de novo.
O elenco de 2015 passa longe de ter as mesmas
limitações, existe toda uma espinha dorsal que ganhou os últimos dois
campeonatos nacionais, e com ajustes o time pode estabelecer como primeira meta
se salvar logo do risco de rebaixamento.
A partir daí é outro problema, afinal estamos em
agosto, nesta época do ano já se deve olhar para o mercado pensando em 2016. Alguns
jogadores encerram seus contratos em Dezembro e já podem assinar um pré-acordo, ou seja, é preciso agilidade para contratar reforços de peso para a próxima temporada.
E se 2015 falhou em não ter um planejamento que
buscasse jogadores que se encaixam em uma filosofia, ou traçar metas ambiciosas
e possíveis, 2016 deve ser construído para corrigir tudo que foi executado de
forma equivocada.
Que a direção não perca a ambição que corou o clube
com os dois últimos títulos, e busque conquistar o que ainda falta para
encerrar sua administração como uma das mais gloriosas da história do Cruzeiro.
Esta foi minha primeira coluna como colaborador do CECPortal, podia ter sido menos crítico, mas não podia deixar de tocar nesse assunto delicado, vamos torcer para que a diretoria me proporcione temas melhores para as próximas.
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Felipe Nunes
@nunes_fil
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