A série Contos Estrelados, tem como objetivo mostrar diferentes histórias de Cruzeirenses. Cruzeirenses de berço e até mesmo que se tornaram "azuis" durantes a vida. As histórias contadas, mostram que o sentimento, envolvendo CRUZEIRO, é imenso, o verdadeiro TIME DO POVO!
Rafael Pena, cruzeirense e advogado conta sua história com o Cruzeiro.
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Foto: Arquivo Pessoal |
A década de 80 não foi fácil para o torcedor Cruzeirense. Nessa época, meu pai tentava me convencer a ser torcedor do Mequinha, não teve muito sucesso. Eu só ía a campo com ele para tomar vários picolés e para poder falar palavrão à vontade (lá em casa era proibido). Meus avós maternos, por outro lado, sempre me contavam das glórias celestes, mas, como eles não iam a campo – por conta da elevada idade deles e da baixa idade minha – eu era obrigado a ir aos jogos do América no Horto, mesmo acompanhando os jogos Cruzeirenses do time celeste pela rádio e TV. No final da década de 80, quando jogava futsal no Barroca eu tive um técnico que era muito cruzeirense, e, nessa mesma época eu disputava posição com filho do Palhinha da Libertadores de 1976. Eu ficava maravilhado quando o Palhinha ia ver os treinos e resenhava com o meu técnico. Víamos ele como um mito. Meu primeiro jogo de futsal foi contra o 6a1o, no antigo “Campo do Lazer” e ganhamos de 4x2 comigo fazendo dois gols, mesmo saindo do banco. A preleção foi dada pelo nosso técnico citando o Palhinha e metendo os ferros no time rival. Nessa mesma época, inebriado com a história passada e coincidindo com o Cruzeiro disputando a Supercopa de 1988 convenci meu pai a me levar nos jogos daquele campeonato, mesmo não sendo o time dele. Foi demais: Além de ter visto aquele time com Careca, Edson, Hamilton e outros fazer o Mineirão balançar na hora dos gols, aprendi o caminho da minha casa para o Mineirão e dali pra frente não deixei mais de ir a campo e acompanhar a paixão que criei com o Cruzeiro. Certo é que o ano de 1988 foi marcante para minha história cruzeirense
Em 2003, na final da Copa do Brasil,o Cruzeiro enfrentava o Flamengo. Foi um parto comprar ingresso para esse jogo. Belo Horizonte inteira tinha resolvido ir naquele jogo de final. Ao chegar no Mineirão vimos que tinha gente disposta a pagar uma baba por ingressos sobrando. Quem conseguiu comprar antes estava tranquilo, quem tinha deixado para em cima da hora estava no desespero. Naquela época não havia as modalidades de sócio torcedor como tem hoje e os ingressos eram de papel (Eu colecionava os canhotos de cada jogo que ia). Quando rumávamos para entrar na antiga escada do portão 3 começamos a perceber que tinha muito marginal esperando o momento certo para dar o bote. Muita gente estava sendo roubada e furtada no meio daquele mundo de gente. E quando eu estava a dois metros da catraca, com o ingresso dentro do bolso da frente, me vem uma mão e cata o ingresso! Na hora fiquei louco e fui atrás do infeliz.
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Foto: Arquivo Pessoal |
Quem foi ao Mineirão antigo lembra que tinha uma escadaria boa em frente ao Portão 3. Lá de cima vi o larápio correndo e lá de cima mesmo voei nas costas do infeliz derrubando-o no chão com meu ingresso na mão. Enquanto eu torcia o braço do infeliz para ele largar meu ingresso eis que ouço da boca do sujeito “o galera do bairro Gorduras, o cara tá roubando meu ingresso”. Dali pra frente só lembro de ter sido içado com uma gravata no gogó e meu pé não batia no chão (detalhe: tenho 1,86m de altura e não senti meus pés baterem no chão). Naquele momento, enquanto eu tomava soco e bicudo de tudo quanto é lado, os meus amigos que estavam comigo apareceram falando que a polícia estava vindo e coisa e tal. Nesse instante tomei uma garrafada na cabeça, que me bambeou e levou à lona.
Quando levantei e como a vista estava piscando, estava passando as mãos só aos olhos para certificar-me que ainda teria olhos e visão pra ver a final. Quando o policial chegou e me ajudou a levantar eu só falava que estava bem e que queria entrar pra ver o jogo quando me deram duas notícias: 1) tinham roubado meu ingresso; 2) minha camisa branca do Cruzeiro estava igual a do Internacional-RS de tão vermelha de sangue e que eu não iria a lugar nenhum que não o posto médico. Fiquei bravo demais e falei que eu tinha que, na pior das hipóteses, ir pra casa ver o jogo pela TV. O policial não deixou e praticamente me conduziu ao posto médico quase dando voz de prisão (sangrava muito minha cabeça). Despedi dos meus amigos, mandando-os entrarem para ver o jogo e que eu estava bem e fui para o posto médico. Perguntei ao guarda aonde era o posto e o mesmo me colocou pra dentro do Mineirão.
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Foto: Arquivo Pessoal |
Enquanto davam o ponto na minha cabeça e colocavam um turbante na mesma, o policial chegou com um representante do Cruzeiro para fazer o B.O. Tinha muito pouco tempo que tinham sancionado o “Estatuto do Torcedor” e a preocupação dos clubes em eventual responsabilização pelas ocorrências em função do jogo eram grandes. Os dirigentes "cagavam" de medo de serem responsabilizados de todas as formas. Enquanto fazíamos a ocorrência, uma enfermeira tinha tirado minha camisa do Cruzeiro (que estava vermelha de sangue) e tinha me dado um sanduíche e refrigerante para ajudar na recuperação. Uns 10 minutos depois me chegam com minha camisa do Cruzeiro lavada e limpa (era a minha velha camisa da sorte, da Supercopa de 92, branca) e o representante do Cruzeiro impaciente pelo desfecho, com medo de eventual sanção pelo ocorrido. O guarda, enquanto fazia a colheita do relato do ocorrido, questionou-me se eu queria fazer uma ocorrência nos termos do “Estatuto do Torcedor”. Ao olhar para o representante do Cruzeiro eu disse que apenas queria ver o jogo e que tinham roubado meu ingresso. Disse que gostaria de sair pra tentar comprar um ingresso na mão de cambista ou ir pra casa ver pela TV e que depois decidiria isso.
Nesse momento, o representante do Cruzeiro disse que se isso era o problema não tinha com o que me preocupar pois ele iria me deixar na cadeira cativa com uma ficha de tropeiro e dois chopes ou refri. Quando percebi o nível da coisa falei que só gostaria de ir pra arquibancada e poder me encontrar com meus amigos para ver mais um caneco do Cruzeiro e que não iria fazer nada contra o Cruzeiro ou seus dirigentes (até porque, por lógica, não foram eles os responsáveis pela garrafada). O pessoal não pensou duas vezes: me levaram para a arquibancada e me soltaram lá, com a promessa de que o Cruzeiro não seria processado. E nem teria motivos para tanto: aquele time só dava prazer de ver jogar. Ao chegar na arquibancada os meus amigos deliraram! Aqueles que não viram o ocorrido só acreditaram da garrafada quando viram o turbante e os pontos pois a camisa não tinha um pingo de sangue. Esse dia foi muito engraçado e feliz pelo caneco que pude ver ao vivo com aquele timaço do Alex (em que pese todo o ocorrido).
Bela história! #CruzeiroTimeDoPovo
ResponderExcluirLegal demais!!!
ResponderExcluirBela História!!!