No último sábado (31), a equipe do
Sada Cruzeiro Vôlei foi consagrada bicampeã do Campeonato Mundial de Clubes. É
um fato marcante na história do esporte nacional, pelo time ser o único do
continente americano a já ter alcançado o logro nesta competição. A repetição
da conquista então provocou orgulho aos milhões de cruzeirenses espalhados pelo
mundo.
Qual é a receita para tanto
sucesso? E como o Sada Cruzeiro pode (e deve) ensinar ao futebol para que este alcance a maior conquista do globo?
O nascimento do Sada Cruzeiro.
A equipe foi fundada em 2006 por
uma parceria entre o Grupo Sada, um dos maiores grupos empresariais do estado
de Minas Gerais, e a prefeitura de Betim. Credenciou-se a disputar a Superliga
A já na temporada 2006/07 e conquistou o Campeonato Mineiro de 2008 e duas
vezes a Copa Bento.
No final de 2008, depois de
dificuldades com a política da cidade, o grupo empresarial decidiu procurar
parcerias na capital para continuar o projeto do time de voleibol. O
conselheiro Anísio Ciscotto contou em seu blog (acesse aqui), como foi que se
deu o casamento entre o Cruzeiro e o Sada em Janeiro de 2009.
A partir daí, o ritmo de conquistas
passou a ser frenético. Foram seis Campeonatos Mineiro, três Torneios de Irvine
(EUA), três Superligas, uma Copa Brasil, dois Campeonatos Sul-Americanos e dois
Campeonatos Mundiais.
Continuidade.
Uma das receitas para o sucesso de
todo o projeto é a continuidade. O treinador Marcelo Mendez, um dos expoentes
da profissão em todo o mundo, chegou ao clube também em 2009 e com ele começou a montagem da equipe.
As contratações de destaque foram
Wallace, então maior pontuador da Superliga 2008/09 pelo Vôlei Futuro. Assim
como chegou à época William Arjona, que jogara cinco temporadas na Argentina.
O que podemos observar destes
movimentos no mercado são as apostas em jogadores sem tanto renome. Ainda que
fosse o jogador que mais fez pontos na temporada, Wallace
era apenas uma promessa e tinha então 21 anos de
idade.
Já William disputava o campeonato
argentino, estava longe dos noticiários esportivos brasileiros (que já não dão
destaque a qualquer outro esporte que não o futebol) e quase se naturalizou
para jogar as Olimpíadas pelo país vizinho. Mesmo assim, o olhar atento do
treinador fez com que o levantador se tornasse membro chave da equipe.
Além destes, podemos destacar as
chegadas de Filipe (ponteiro), Serginho (líbero), entre outros, que se somaram à Douglas Cordeiro e Leandrão. Com esta
equipe base, Marcelo Mendez alcançou a primeira final de Superliga em 2011,
sendo derrotado pelo Sesi/SP.
Foram dois anos para alcançar uma
equipe-base ideal e então somar os reforços de peso como Leal (que vinha de
dois anos de inatividade), Éder e Isac, até alcançar todos os feitos
supracitados.
Agora imagine o mesmo cenário no
futebol. Não é impossível, mas no panorama brasileiro é improvável.
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| Sincronia que vem do entrosamento (Imagem: Reprodução Site Oficial CWC) |
Já tivemos provas, num passado
recente, que ser vice-campeão brasileiro não basta. Não há paciência para nada
menos do que a vitória. E jogadores promissores
que não correspondem imediatamente são queimados e só encontram paz para
desenvolver sua plenitude técnica em outros campos.
Pense então num atleta que chega do
exterior sem o devido reconhecimento em seu país natal. Ou que seu jogo não
apareça para a torcida, mas seja de fundamental importância no plano tático.
Esses exemplos de persistência,
confiança e continuidade do Sada Cruzeiro precisam ser copiados pelos
dirigentes do futebol. Se existe credibilidade no trabalho realizado, logo ele
precisar ser estendido até o final, caso contrário não existirá resultado.
Renovação
Parece contraditório ao tópico
anterior, mas não é. Dos dezoito jogadores disponíveis para o Campeonato
Mundial de Clubes, dez (10!) são
jogadores com passagem nas categorias de base do clube -
inclusive o colombiano Juan Pablo Mosquera que só fará 18 anos na próxima
semana.
Significa que os seis jogadores
titulares mais o líbero Serginho, praticamente só têm reservas formados no
próprio clube. Excetuando o ponteiro-passador Filipe, que pela função tática
exige um atleta com diversas habilidades (em passar, atacar e defender), tendo
como reserva imediato o canadense Winters. Ademais, todos os outros que compuseram
o elenco campeão tinham idade entre 17 e 22 anos.
Isso inclui o oposto Alan que,
durante a final, entrou no lugar de Wallace que voltara de contusão há pouco
tempo e mudou o panorama do primeiro set.
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| Alan Souza, cria da base celeste foi determinante para a vitória. (Imagem: Reprodução Site Oficial CWC) |
Temos que destacar que o projeto do
Sada envolveu a criação de uma equipe “B”, alcançando as duas últimas finais da
Superliga B – impedida de jogar em 2014 pelo STJD – campeã em 2015. É visível
que este processo contribuiu no amadurecimento dos jovens atletas e os tornou
capacitados a disputarem o maior torneio de clubes no mundo.
Mostra para a diretoria de futebol
que, independente do esporte em questão, talento se faz em casa. A equipe
bicampeã nacional em 2013/14 tinha Lucas Silva como titular absoluto, contando
com participação decisiva de Mayke, Vinícius Araújo e Élber.
No ano de 2015 se esperava que a
evolução dos garotos ganhasse sequência. Ainda
que Élber tenha adquirido bastante confiança com o empréstimo ao Sport, não se
viu entre os outros jovens rendimentos semelhantes.
Mayke perdeu a firmeza de quem se
mostrou apto a ser titular da lateral direita. Entre idas e vindas, Vinícius ainda não adquiriu o prestígio do treinador
e os números de goleador que se espera dele.
Mas o que chama a atenção no elenco
do futebol é Eurico. Tido por muitos observadores da base como jogador de
potencial, o volante não seguiu a sequência natural da transição entre os juniores
e profissionais. Em 2014 teve alguns minutos
para mostrar sua habilidade e este ano acabou relegado à última opção.
É impossível negar: o inchaço do
elenco atrapalhou o desenvolvimento dos atletas formados no clube. Todavia, é
terrível perceber que houve contratações que eclipsaram a oportunidade dos
garotos.
Como lição fica o sucesso da equipe
de voleibol do Cruzeiro. Uma
parceria entre investidor e clube, que não limita a formação de atletas e nem
define prazos curtos para obter êxito. Que sejamos felizes assim em todos os
esportes.
Parabéns Sada Cruzeiro, todo o
mundo se rendeu ao seu esforço.
Por: Felipe Nunes




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